sexta-feira, 25 de maio de 2012
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Instantes de Ar
Hoje, meus intervalos de fôlego são mais curtos. Em tempão eu acreditei que talvez passasse logo,
mas não é esse o caso. Não sei se consigo viver por muito mais tempo no mar,
não sei se posso aprender a respirar água e ficar sufocada com a superfície
terrestre cercada de ar e luz. Confesso que tem sido tão difícil. Minhas dores só
aumentam a freqüência e nos instantes de dormência vem um animo de dentro pra
fora impulsionado por essa força estranha que me invade e eu respiro com força,
encho os pulmões, abro a boca pego ar e ... passou. E a bolha estoura, o vidro
quebra, o abraço fica fraco, o tempo fica estranho, acelerado ou parado, lento,
de repente já passou e eu nem vi. A garganta quer falar mas o som não sai, as
lagrimas querem correr e correm, mas em conta gotas, e o cheiro se vai, se vai,
e vai, parte pra onde? E-u n-a-o s-e-i. E fico aqui, me perdendo, me batendo,
me dissolvendo, sabe aquele ditado água mole, pedra dura, tanto bate ate que
fura? Então, sou terra, sou pedra, estou furada, lascada, trincada, me despedaçando
mais e mais a cada nova onda ou velha, quase espalhando os pedaços no mar. E lá
vem a Onda...Eu só queria um buraco, deixar ela passar, me molhar mas não me
despedaçar, ir junto se preciso for ou se de repente seja melhor mudar, mas os
pedaços, será que espalhando vou conseguir me juntar ao mar? Mas eu sou Terra,
tem terra na água do mar? Ou são só grão, que depois de muito espalhar e rolar,
chegam a praia para caminha com o Vento?
sexta-feira, 11 de maio de 2012
“Segurem-se firmes, porque o que vem chegando ai é uma
tempestade.
Gotas grandes começam a cair na gente. A escuridão se
aproxima com uma rapidez vertiginosa [...] Agora um Vento de violência nunca
vista nos ataca. As Ondas, como por encanto, se formam com rapidez incrível,
todas cobertas de espuma; o Sol esta completamente aniquilado, chove
torrencialmente, não se enxerga nada e as Ondas, batendo contra o barco, lançam
fortes jatos de água em nosso rosto. É tempestade, minha primeira tempestade,
com toda a fanfarra da natureza desencadeada, o trovão, os relâmpagos, a chuva,
as Ondas, os Uivos do Vento que ruge em cima de nós, em volta de nós.
O barco, carregado como uma palha, sobe e desce a
alturas incríveis e abismos tão profundos, que a gente tem a impressão de não
poder mais sair deles. No entanto, apesar desses mergulhos fantásticos, o barco
torna a subir, vence mais uma crista de Onda e passa e torna a passar. Seguro a
barra do leme com as duas mãos, pensando como enfrentar um vagalhão um pouco
mais alto que vem vindo, mas, na hora em que aponto o barco para cortá-lo,
faço-o rápido demais e deixo entrar grande quantidade de água. O barco todo
fica inundado. [...] Nervosamente, sem querer, fico enviesado diante de uma de
uma Onda, o que é extremamente perigoso, e o barco fica tão inclinado, prestes
a virar, que devolve uma enorme quantidade de água. [...] Desisto de lutar contra
o curso das Ondas, não me preocupo mais com a direção a seguir, simplesmente mantenho
o barco em equilíbrio [...] desço voluntariamente ao fundo com elas (Ondas) e
subo novamente, junto com o próprio Mar. Logo me dou conta de que minha
descoberta é importante e que assim eu eliminei noventa por cento de perigo. A
chuva pára, o Vento sopra sempre com fúria, mas agora posso enxergar bem à
frente e atrás de mim. Atrás esta claro; na frente, preto, e nós estamos no
meio desses dois extremos. [...] O sol brilha de novo em cima de nós, o Vento é
normal, as Ondas menos altas; iço a vela e partimos novamente, satisfeitos. [...]
Uma paz me invade com uma doçura pouco comum e, com a paz, a sensação de que
posso ter confiança em mim. Havia perdido essa confiança e a pequena tempestade
foi muito útil para mim. Sozinho, aprendi como manobrar nesses maus tempos. Vou
enfrentar a noite com uma serenidade completa. [...] Com um Vento e umas Ondas
como aquelas, quanto à gente não deve ter ido à deriva (?)” Trecho de Papillon
– Henri Charrière(1974)
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