quinta-feira, 7 de abril de 2011

Do que padece Michael Berg?

        Fico dias e dias a pensar, lembrar e ver aquele homem que não consegue dizer adeus, ficar de frente a mulher amada e se perder nos olhos e lábios de Hanna.
        Talvez, só talvez, seja exatamente isso, perder-se em Hanna. Perder-se no turbilhão de afectos, sentidos e sentimentos provocados por um assalto da alma que é se vê diante de alguém que faz seu coração calar a bagunça dos ritmos dessincronizados.
        Michael permanece, amorosamente, no mundo das sombras, se alimentando furtivamente das lembranças de um amor que lhe marcou tanto, que talvez por medo de rasgar a página ele não se atreve a reescrever, a reler de modo que ecoe nos ouvidos e lábios de uma nova amante, permanecendo apenas um sussurro que se escuta quando nos entregamos à noite. 
         Padece da covardia do sentir. De um sentir demasiado insustentável diante da angústia da perda e do perder-se novamente no atravessamento da ciranda paixão. Mas não posso dizer que este é o padecimento de Michael, mas também dele.
         De que padece Michael Berg? Como seria grande meu atrevimento, como se na minha experiência pudesse eu dizer do que padeço.
         Como é maravilhoso Michael quando o vejo fazer o café da manha daquela mulher, ouvir a música, deixar a lágrima rolar na face de sua filha, caminhar no apartamento vazio.



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