sexta-feira, 9 de março de 2012

Caricia de gato

Há tempos que não me preocupo em definir e elaborar o que sinto, pois uma vez que sou eu quem sente apenas eu e meu sentir bastava, sem que palavras fossem feitas por mim como ferramentas de produção de sentido que emitia ao outro aquilo que se passava por mim que nem eu me incomodava em não saber o que é. Com o tempo, tão carinhoso e delicado tempo, veio de novo bater em meu corpo dizendo, olha lá fora! Me diz o que tem ai dentro?! E sempre era algo tão líquido, abstrato, e ao mesmo tempo concreto; eu não sabia das palavras, sabia de minhas sensações. Me acostumei a ouvir meu corpo. Acho que foi o que entendi por ouvir o coração. Mas ai minha cabeça começou a pensar que tinha que dizer o que minha pele sussurrava pra dentro de mim, só que o que minha pele sussurra e minha boca fala, os ouvidos entendem a língua e não a linguagem. Mas quando eu chego à linguagem já tem muita língua acumulada e eu prefiro ficar comigo, que ficar sozinha tentando me fazer entendível numa linguagem que não é minha. Ate que minha língua diz assim conversando com minha pele e meu corpo: Bora fazer uso da linguagem! As cores que essas pessoas trazem, podem ser lindas! E lá vou eu. E ai eu fui falando e falando, e me esquecendo e me perdendo e me achando. Os sussurros se tranaram desenhos, coisas que sinto ouvindo musica de madrugada me balançando na rede, olhando as estrelas, soltando beijo pra Lua enquanto ando no meio da rua de cara pra cima. E ai, cada vez mais, eu deveria usar a linguagem e não minha língua. Só, que eu não suporto isso, e meus sussurros às vezes, são entendidos como gritos, urros, ou silêncios de adeus. [...]

2 comentários:

  1. A língua ou a linguagem não são importantes. Na Vida o que realmente é significativo é o que fala os afetos. Significados e sentidos é uma tentativa e muitas vezes bem sucedida de matar o sentir. Encontra a vida apenas aqueles que se permitem ser atravessados pelos afetos, assim, se permitindo se dissolver na natureza e no fluxo da Vida.

    ResponderExcluir
  2. Minha língua e corpo tentam traduzir em linguagem os afetos, mas não por uma vontade genuinamente minha, e sim por permuta afetiva com o logos da pólis.Dissolver....

    ResponderExcluir