segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Recortes de Orpheu e Eurídici

Relendo O Banquete me pergunto se teria, como amante, tido a oportunidade de ir a “ilha dos bem-aventurados” caso Orpheu tivesse conseguido encontrá-la.
Ele que parado a frente de uma escuridão parecia um feto incapaz de conhecer o próprio corpo e de saber ate onde poderia estender os dedos da mão.
Mas Orpheu de repente começa a dançar ou a se contorcer na escuridão, a musica invade os sentidos e os vultos negros que vez por outra colocava uma mulher acima, mas ainda não tão alta quanto a noiva sem vida, desolada e ainda tão bela. Orpheu a se contorcer por alguns instantes, o contemplar do vazio perpétuo multiplicado no espelho que reflete e transparece; minha dor, minha perda por não conseguir expor meus sentimentos e ter de conviver com a realidade de que o que foi não mais será, nem voltará. Meu desencanto em buscar o que me faria sentir de novo, sentir-me viva, arrebatada, algo que não saísse de meus pensamentos, minha ilusão de não poder escolher não escolher. Meu abismo onde me sentia tão bem, após me acostumar com a ausência do que se quer cheguei a ter de maneira intensa.
[...] mesmo onde não queremos e não gostamos algo pode surgir, algo que terá ao menos o valor simbólico ou o valor de uma lembrança. 
E quando o tive, ah - suspiro

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